Paulo Fonseca: Destino traçado
O treinador do FC Porto já quis sair várias vezes, mas Pinto da Costa deverá obrigá-lo a ficar até final da época. O apuramento de ontem, na Liga Europa, ajudou a aliviar a pressão, mas não há volta a dar.
Pinto da Costa tem uma vontade férrea de prolongar por mais algum tempo o consulado de Paulo Fonseca como treinador do FC Porto e a passagem aos oitavos-de-final da Liga Europa - graças a um empate a três golos - dá-lhe agora maior margem de manobra. Mas o destino está traçado: o técnico tem os dias contados no Dragão.
Ao contrário do que foi noticiado antes da visita de ontem ao Eintracht de Frankfurt, no entanto, o SOL sabe que dificilmente Paulo Fonseca seria demitido se a equipa tivesse ficado pelo caminho na Alemanha. Em última análise, só numa situação de hecatombe essa possibilidade poderia ter sido equacionada. Ainda no domingo, após a derrota caseira frente ao Estoril, o técnico manifestou pela segunda vez a intenção de sair - e Pinto da Costa recusou o pedido sem hesitações.
O líder portista nunca foi grande adepto de demitir treinadores a meio de uma temporada - só aconteceu cinco vezes em 32 anos de presidência - e tem sido cada vez mais avesso a essa solução com o decorrer dos anos. De preferência, só aceita pensar no assunto no final das épocas.
No caso de Paulo Fonseca, Pinto da Costa aprecia o seu trabalho e já depois da derrota em Coimbra, a 30 de Novembro, o tinha demovido de apresentar a demissão. Até hoje, a vontade de acordar o divórcio partiu sempre do treinador, que já por várias vezes fez saber que renuncia a qualquer indemnização em caso de rescisão do contrato.
Do final da temporada, e tendo em conta o ponto em que as coisas estão, não passará. Os adeptos há muito que mostram o descontentamento perante os maus resultados e a derrota na recepção ao Estoril - a primeira em cinco anos e quatro meses - foi a gota de água. Os cânticos e os lenços brancos exibidos, pedindo a cabeça do treinador, tiveram uma força como há muito não se via nas hostes 'azuis e brancas'. A situação tornou-se insustentável a longo prazo.
Historial negativo
A aposta de Pinto da Costa no homem que, na época anterior, levou o Paços de Ferreira ao terceiro lugar não deu os frutos desejados. A perda da invencibilidade caseira na 1.ª Liga, ao fim de mais de cinco anos, é apenas o mais recente de vários registos negativos acumulados ao longo da temporada.
Com 58% de vitórias até ao momento (21 em 36 jogos), é preciso recuar até à passagem de José Couceiro pelo clube, numa fase de instabilidade que se seguiu à conquista da Liga dos Campeões com José Mourinho, para encontrar um treinador com menos hábitos de ganhar (47%).
Todos os outros que se seguiram a essa época de 2004/05 apresentam um saldo melhor, de Co Adriaanse (64%) a Vítor Pereira (70%), passando por Jesualdo Ferreira (67%) e André Villas-Boas (84%).
Com Paulo Fonseca ao leme, o FC Porto teve o segundo pior desempenho da sua história na Liga dos Campeões, somando apenas cinco pontos, uma vitória e quatro golos marcados na fase de grupos. Pior só em 1997/98, no reinado de António Oliveira, quando não foi além de quatro pontos, uma vitória e três golos. Foi também a primeira vez que os 'dragões' não ganharam qualquer jogo perante os seus adeptos.
Na 1.ª Liga, o panorama não é mais animador. Desde 2004/05 que o clube não chegava à 20.ª jornada com tão poucos pontos acumulados (42), mas o pior é o atraso de sete pontos que já leva para o líder, quando restam disputar dez jornadas.
Neste ponto do campeonato, é necessário recuar 12 anos para encontrar uma desvantagem maior para o topo (oito, em 2001/02) e ainda mais para vislumbrar uma época em que o FC Porto entrou nas últimas 10 jornadas atrás de Benfica e Sporting. A última vez que tinha acontecido foi em 1993/94.
Praticamente afastado do título, resta a Paulo Fonseca lutar pelas taças: a de Portugal, a da Liga e a Liga Europa, onde terá como próximo adversário os italianos do Nápoles.
fonte:http://sol.sapo.pt/in