Oficinas: seguradoras usam peças sem qualidade
O presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel (ARAN) criticou a actuação de seguradoras que vêm obrigando oficinas a usarem peças de má qualidade e não aprovam reparações para poderem compensar directamente os lesados sem pagar o IVA.
Em declarações à Lusa, António Teixeira Lopes realçou que a situação só se aplica a determinadas companhias e, sem querer «para já» divulgar quais, explicou: «Algumas seguradoras não aprovam o orçamento da reparação nas oficinas para ressarcirem directamente o lesado e, ao fazerem esse pagamento, não incluem o IVA».
«Isto quer dizer», continua o mesmo responsável, «que o cliente vai a outra oficina qualquer, compra peças na sucata e, um dia que tenha um acidente, vê que o carro afinal não tem airbags nem pré-tensores nos cintos de segurança».
Outro «problema nacional» para o qual António Teixeira Lopes diz já ter alertado o Ministério da Finanças é o recurso a peças de qualidade inferior, de marcas brancas, em substituição das de origem.
«Algumas seguradoras mandam colocar peças que não têm qualidade nenhuma», assegura o presidente da ARAN. «Algumas companhias têm acordos com fornecedores e obrigam as oficinas a usar materiais deles alegando que têm certificação de qualidade, que não vale nada como qualquer técnico experiente vê ao comparar uma peça com a outra».
À custa destes estratagemas, diz, «quase um quarto do valor das reparações está a ser metido ao bolso pelas seguradoras» envolvidas nestes procedimentos, com prejuízo «para as oficinas, para os particulares lesados e até para as companhias que agem correctamente».
João Oliveira tem uma oficina em Braga e defende que «isto é tudo uma guerra entre programas de orçamentação e gabinetes de peritagem». No primeiro caso, porque «todas as seguradoras usam o mesmo programa, mas adulteram-no de acordo com os valores que elas querem»; no segundo, porque se trata de «garantir as reparações mais baratas, para se lucrar mais e angariar mais clientes».
Em ambas as situações, as empresas de seguros obrigam à utilização de peças alternativas cuja certificação é atribuída por centros «que validam uma peça que até se revela boa no início do processo, mas depois não é sujeita ao controlo de continuidade».
«Quando houver um acidente, o aparato dos pára-choques, dos guarda-lamas e dos capots mostra logo que o material era fraco», observa João Oliveira, «e claro que aí a culpa passa por ser das oficinas que escolheram as peças, como se elas não se tivessem limitado a fazer o que as companhias mandaram».
Manuel Vieira gere outra oficina em Braga e defende que «é preciso controlar as certificações, que são feitas de forma estranha e não incluem reavaliação periódica».
«Dizer que as peças alternativas são de qualidade equivalente é enganar as pessoas - se fossem 90% equivalentes, ainda se aceitava, mas, se chegarem a 30%, já é uma grande sorte», acrescentou.
A Associação Portuguesa das Seguradoras garante, por sua vez, que «não tem conhecimento de práticas lesivas dos interesses dos sinistrados na gestão de sinistros, que implica o rigoroso cumprimento da legislação europeia sobre a utilização de peças equivalentes».
«As seguradoras portuguesas seguem modelos já mais extensos noutros países», declara fonte desse organismo, «e tem sido essa actuação rigorosa, activa e atenta que também tem permitido baixar os custos de reparação dos veículos e, em consequência, os prémios de seguro automóvel».
fonte:http://www.agenciafinanceira.iol.pt/e